Nicolau Maquiavel nascido na segunda metade do
século XV, em Florença, na Itália, trata-se de um dos principais intelectuais
do período chamado Renascimento, inaugurando o pensamento político moderno. Ao
escrever sua obra mais famosa, “O Príncipe”, o contexto político da Península
Itálica estava conturbado, marcado por uma constante instabilidade, uma vez que
eram muitas as disputas políticas pelo controle e manutenção dos domínios
territoriais das cidades e estados.
Dessa forma, considerando esse cenário, Maquiavel
produziu sua obra com vistas à questão da legitimidade e exercício do poder
pelo governante, pelo príncipe. A legitimação do poder seria algo fundamental
para a questão da conquista e preservação do Estado, cabendo ao bom rei (ou bom
príncipe) ser dotado de virtú e fortuna, sabendo como bem articulá-las. Enquanto a virtú
dizia respeito às habilidades ou virtudes necessárias ao governante, a fortuna
tratava-se da sorte, do acaso, da condição dada pelas circunstâncias da vida.
Para Maquiavel “...quando um príncipe deixa tudo por conta da sorte,
ele se arruína logo que ela muda. Feliz é o príncipe que ajusta seu modo de
proceder aos tempos, e é infeliz aquele cujo proceder não se ajusta aos
tempos.” (MAQUIAVEL, 2002, p. 264). Conforme afirma Francisco
Welffort (2001) sobre Maquiavel, “a atividade política, tal como arquitetara,
era uma prática do homem livre de freios extraterrenos, do homem sujeito da
história. Esta prática exigia virtú, o domínio sobre a fortuna”. (WELFFORT,
2001, p. 21).
Contudo, a forma como a virtú seria colocada em
prática em nome do bom governo deveria passar ao largo dos valores cristãos, da
moral social vigente, dada a incompatibilidade entre esses valores e a política
segundo Maquiavel. Para Maquiavel, “não cabe nesta imagem a ideia da virtude
cristã que prega uma bondade angelical alcançada pela libertação das tentações
terrenas, sempre à espera de recompensas no céu. Ao contrário, o poder, a honra
e a glória, típicas tentações mundanas, são bens perseguidos e valorizados. O
homem de virtú pode consegui-los e por eles luta” (WELFFORT, 2006, pg. 22).
Assim, essa interpretação maquiaveliana da esfera política foi que permitiu
surgir ideia de que “os fins justificam os meios”.
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